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rogiel pereira silva



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Trabalho do livro São Bernardo

Analise do livro
Notamos, ao analisar o romance, que, se há denúncia, esta fica em segundo plano. Todo o romance envolve a tensão psicológica de Paulo Honório, que se desenvolverá, aqui, em dois planos: o Paulo Honório narrador e o Paulo Honório personagem.
Paulo Honório causa-nos o "estranhamento" por ser um herói problemático, buscando o entendimento na avaliação de si mesmo. A história é contada num tempo posterior aos fatos, ou seja, Paulo Honório, no passado, vivenciou uma série de experiências, que, agora, num tempo atual (já com cinqüenta anos), pretende relatar em livro.
Toda a narrativa se envolverá num processo de circularidade e alternâncias : no enredo central, teremos Paulo Honório personagem; na narração, aparecerá o Paulo Honório avaliativo, distante dos fatos, buscando entender a si, ao mundo e até mesmo ao seu processo de criação.
Inicialmente, o narrador explica ao leitor todo o seu processo de escritura, fazendo-o participar da obra. Em todo o primeiro capítulo do livro, Paulo Honório narrador expõe seu projeto de fazer a obra pela "divisão do trabalho". Para tanto, "Padre Silvestre ficaria com a parte moral e as citações latinas; João Nogueira aceitou a ortografia e a sintaxe; prometi ao Arquimedes a composição tipográfica; para a composição literária convidei Lúcio Gomes de Azevedo Gondim, redator e diretor do ‘Cruzeiro’."(p.7).
Percebe-se que, por meio de um processo de metalinguagem, coloca-se o processo da escritura em discussão. Junto com ele, descobrimos que o processo de elaboração é falho ("O resultado foi um desastre."- p. 8), pois mascara seu autor: ele é um homem rústico, e não aquilo que estavam fazendo que ele parecesse (...está pernóstico, está safado, está idiota. Há lá quem fale dessa forma!- p.9).
Desta maneira, Paulo Honório coloca-se como alguém simples, não afeito a técnicas narrativas normalmente consideradas sofisticadas, daí as referências à "língua de Camões". É por isso que assumirá a escritura do romance que tratará de sua história, desde guia de cegos a proprietário da fazenda São Bernardo: narrativa que se pretende escrita de forma rústica para tratar de uma "alma agreste", conforme ele se autoqualifica.
Porém, engana-se o leitor se imagina encontrar um texto desconexo, escrito por alguém que se diz semi-analfabeto; ao contrário, deparamo-nos com um texto, que, em termos de linguagem, poderia, inclusive, ser classificado como clássico: a linguagem é "enxuta", sem preocupação descritiva ou abuso de linguagem figurada; é a nítida preferência pelo substantivo, pela informação direta, aproximando-se de uma linguagem referencial, bastante afastada daquilo que chamaríamos, tradicionalmente, de poético. Neste sentido, poderíamos fazer uma comparação com Machado de Assis, pois é a mesma preferência pela análise psicológica, por conseguinte ocupando maior espaço na obra.
É aí que encontramos a iconicidade: é a linguagem reveladora da personagem, ambos agrestes, áridos. Todavia, essa simplicidade toda não nos leva a uma narrativa primitiva, linearmente organizada. O texto é carregado de digressões e processos metalingüísticos.
O narrador quer criar a ilusão de que está escrevendo o texto sem planejamento, sem cálculo prévio, forjando um primitivismo literário num livro de memórias: Paulo Honório narrador conta a história de Paulo Honório personagem. Seu método seria algo semelhante à técnica narrativa impressionista, contando os fatos conforme vão surgindo na memória, daí a "desordem", a falta de linearidade cronológica; por exemplo, ficamos sabendo que o filho de Madalena já havia nascido, porque o narrador o apresenta chorando:



Resumo do livro São Bernardo
Publicado em 1934, São Bernardo está entre o que de melhor o romance brasileiro produziu. Num primeiro instante pode até parecer uma história de vitória de seu narrador-protagonista, Paulo Honório, que foi de guia de cego na infância até se tornar latifundiário do interior de Alagoas. No entanto, a questão principal é muito mais aguda e amarga.
Para alcançar sua ascensão social, o narrador paga um preço altíssimo, que é a destruição do seu caráter afetivo. Na verdade, a perda de sua humanidade pode ser entendida como fruto do meio em que vivia. Massacrado por seu mundo, acaba tornando-se um herói problemático, defeituoso (parece haver aqui um certo determinismo, na medida em que o homem seria apresentado como fruto e prisioneiro das condições mesológicas).
No princípio, sem saber quem são seus pais, Paulo Honório é cuidado por uma mulher, Margarida. Ajuda-a a se sustentar na confecção de doces. O fato mais importante nessa sua alvorada foi quando se apaixonou por Germana, que sofria na mão de João Fagundes. Em defesa dela, o protagonista esfaqueia o malfeitor, o que lhe rende um certo tempo de prisão. É a última vez que deixará o mundo passar por cima dele.
Consegue empréstimo com um sujeito chamado Pereira. É o início da virada de jogo. Além de conseguir negociar juros mais baixos, introjeta um sentimento de desforra pela exploração que mais tarde será saciado, quando, por cima, hipoteca os bens do agiota, tomando posse deles no final. E tudo sem remorso. Tornou-se um rolo compressor. Quem se opõe, é descartado, quando não é esmagado.
Outra máquina que pode ser usada como comparação para se entender a personalidade de Paulo Honório é o dínamo, que produz energia por meio do movimento. Torna-se uma pessoa determinada a vencer na vida. Com o dinheiro do empréstimo, compra algumas mercadorias e torna-se caixeiro viajante. Com o lucro, investe em seu próprio negócio e compra mais mercadorias. Vai, com enormes sacrifícios, aumentando seu capital de giro (há quem enxergue em Paulo Honório uma metáfora do capitalismo, o que de fato é um exagero. É certo que sua atitude em fazer o dinheiro atrair mais dinheiro, ou seja, em gerar capital, é um elemento típico desse sistema econômico. Mas o seu ambiente é muito primitivo, periférico, para poder gerar tal modo de produção. Como se verá em vários momentos da obra, o protagonista na realidade representa um sentimento que é a base do capitalismo: a posse).
Houve um momento em que tentaram enganá-lo. Acerta negócios com um indivíduo que parece recusar-se a pagar. Paulo Honório obtém o dinheiro graças à ajuda de alguns capangas. É quando conhece Casimiro Lopes, que se tornará para sempre tão fiel quanto um cão. É também quando se cristaliza seu caráter de rolo compressor.
Dono de um certo padrão de vida (o que já seria um prodígio, tendo em visa sua origem), decide adquirir a fazenda onde havia trabalhado: São Bernardo. É uma maneira interessante de se vingar do que havia sofrido. Para tanto, estabelece uma estratégia bastante eficiente (é interessante notar a precisão numérica com que relata datas, valores e demais elementos de seu ataque).
Sondando o terreno de combate, fica sabendo que a fazenda passara para as mãos de Luís Padilha, filho de seu antigo patrão. Em pouco tempo de conversa, percebe que se tratava de alguém que não tinha determinação, desorganizado no aspecto financeiro. Por isso, Paulo Honório o seduz, fazendo-o aceitar um empréstimo para investimentos na São Bernardo. Sabe que o herdeiro não vai conseguir honrar os compromissos. De fato, Padilha gasta o dinheiro e, para evitar problemas judiciais, acaba transferindo a posse da fazenda por uma dívida muito inferior ao valor do imóvel. Caiu perfeitamente na armadilha.
A partir de então, Paulo Honório dedica-se inteiramente à sua propriedade. Tem problemas com seu vizinho, Mendonça, que avança sobre sua propriedade. Fica nas entrelinhas que, em acordo mudo com Casimiro Lopes, o problema é eliminado na tocaia, com o assassinato do opositor.
Seu caráter já está nítido. Compra elogios nos jornais, conquista apoio político. Torna-se, de fato, um coronel. E acaba esquecendo-se de tudo o que passou enquanto estava por baixo. Legitima o sistema. Antes oprimido, assume o discurso do opressor. Para ele, as pessoas são peças descartáveis do seu sistema de comportamento egoísta. Só têm valor no momento em que lhe são úteis. Quando deixam de ser, ou são eliminados ou são massacrados.
Todo seu suor tem resultado. São Bernardo torna-se uma fazenda extremamente produtiva. É quando decide arranjar um herdeiro para tudo o que juntou. Para tanto, precisa casar-se. Nota-se aqui a distorção em que se vai fundamentar o seu matrimônio, pois não se pensa em sentimentos, em amor. Até a maneira com que acerta o enlace, com Madalena, professora criada por uma tal de D. Glória, é por demais desajeitada, quando não grosseira (assim como na aquisição da fazenda São Bernardo, o estilo adotado na negociação do casamento (no fundo é negociação mesmo) é fortemente marcado por dados numéricos. É como se na mente de Paulo Honório as duas ações se equivalessem).
Concretizada a união, começa a decadência de Paulo Honório. Ele é semi-analfabeto. Ela é instruída. São personagens dotadas de linguagens diferentes (torna-se notória a dificuldade de comunicação entre ambos, graças às diferenças lingüísticas), o que indica visões de mundo em nada semelhantes. Ele é possessivo. Ela é humanitária. Estão destinados à fratura.
No oitavo dia de casamento, ocorre a primeira briga, quando Madalena expressa a opinião de que Paulo Honório paga muito pouco para seu Ribeiro (seu Ribeiro tinha sido latifundiário e coronel. Com a modernização que chegou ao sertão, não soube adaptar-se, fato que fez com que perdesse espaço para gente como Paulo Honório, que o contrata como contador. Mas pode-se imaginar também que o protagonista o havia contratado para sentir mais ainda o gosto vaidoso de suplantar um símbolo de um mundo que o massacrara). E seguirão nesse tom. Ela o convence, ainda que contrafeito, a comprar remédios para Mestre Caetano, que havia dado toda a sua vida à São Bernardo e que no momento estava doente. Fá-lo gastar com material escolar para a escola de seus trabalhadores, o que o deixa indignado, por achar um absurdo. Fica irado quando descobre que sua esposa havia dado um vestido de seda, rasgado, para a esposa de um de seus empregados. Acha um luxo a despesa que ela tem dispendido com Margarida (rico, manda buscar a velha que havia cuidado dele em sua infância. É uma atitude com um quê de gratidão, mas torta, pois pensa que é uma maneira de compensar o que ela havia gastado com ele. Tudo gira ao redor de sua visão de mundo monetária, materialista). Em resumo: as atitudes egoístas de Paulo Honório chocam-se com a visão de mundo altruísta de Madalena.
Vendo sua esposa fugir do seu controle, não se comportar como posse sua e, pior, nem compactuar com essa visão de mundo, começa, em sua mente desequilibrada, a imaginar que é porque outro tem controle sobre ela. Começa, pois, a desenvolver ciúme doentio.
Esse é um dos mais importantes pontos de contato que São Bernardo estabelece com Dom Casmurro, de Machado de Assis. Fora a escrita autobiográfica e metalingüística que serve como uma tentativa de, no fim da vida, Paulo Honório e Bentinho tentarem entender a inutilidade de suas existências, as duas obras são narrativas do ciúme doentio. A diferença é que na obra machadiana esse sentimento é fruto de uma mentalidade mimada e insegura. No caso da obra de Graciliano Ramos, nada mais é do que conseqüência do sentimento de posse que domina seu protagonista.
A situação vai-se tornando insuportável. O casal vai tendo brigas constantes e cada vez mais arrasadoras. Paulo Honório chega a se arrepender de muitas delas, mas sua mente torta não permite que se corrija. Piora. Passa a imaginar sua esposa traindo-o com qualquer homem, até mesmo o padre e os peões.
O clímax surge quando o protagonista acha uma página de uma carta em que reconhece a letra de Madalena. Lendo-a, entende que é um texto que se dirige a um homem. É a prova de que precisava. Dirige-se à capela para tomar satisfações de Madalena, que tranqüilamente assume a autoria da carta, dizendo que o resto dela estava no escritório, informando ainda que Paulo Honório deveria lê-lo. Retira-se de cena (a forma com que Madalena sai de cena em muito lembra a maneira como Capitu agiu no momento em que recebeu a acusação de Bentinho, em Dom Casmurro, de que o havia traído. Nem se defendeu, nem reconheceu culpa), dizendo que precisava descansar, não sem antes informar que o ciúme é que havia detonado o relacionamento dos dois e também pedir para que ele tivesse mais paciência e consideração com as pessoas. Ela já havia tomado uma decisão drástica, mas o protagonista não a havia percebido.
Passa o resto da noite na capela, depois andando por suas terras. Ao amanhecer, gritos atraem sua atenção. Ao chegar a sua casa, descobre que Madalena havia-se suicidado, tomando veneno.
Instintivamente corre para o escritório e lê o resto da carta, que de fato era para um homem: ele próprio. Madalena despedia-se por meio dela.
A partir de então, começa a ruína de Paulo Honório. Ao passar por cima de Madalena, ao esmagá-la, já que ela era uma ameaça ao seu universo de valores, acabou tendo um veneno inoculado por sua esposa e que acaba dinamitando suas crenças. Em outras palavras: Madalena amava-o.
O dono da São Bernardo acaba descobrindo um conjunto de valores importantes que não têm espaço no universo materialista, coisificador que criou. O que fazer com as emoções, com o caráter humano? Perdido, desnorteado, depara-se com o vazio, com a inutilidade de sua existência, já que confundiu o “ter” com o “ser”. Acumulou bens, riquezas. Mas viveu? Começa aí sua decadência. Começa a derrocada da fazenda São Bernardo. E é nesse ponto que começa também a construção de São Bernardo, agora o romance.
Antes de encerrar, é importante lembrar alguns aspectos quanto ao estilo da obra. Em primeiro lugar, há um aspecto que atenta contra a sua verossimilhança, que é um célebre problema de incoerência: como um romance tão bem escrito como pôde ter sido produzido por um semi-analfabeto como Paulo Honório. É uma narrativa muito sofisticada para um narrador de caráter tão tosco.
Quando se menciona que a narrativa é sofisticada, não se quer dizer que haja rebuscamento. A linguagem do romance, seguindo o estilo de Graciliano Ramos, é extremamente econômica, enxuta. Mas densa de beleza (aliás, há nesse aspecto outro ponto de contato com Dom Casmurro. Assim como o narrador Bentinho, formado em Direito, vazará em sua narrativa uma linguagem jurídico, que não chega a ser claramente percebida pelo leitor, Paulo Honório derramará em São Bernardo toda uma linguagem típica de fazendeiro. É a linguagem revelando e denunciando uma visão de mundo).
Outra beleza pode ser percebida pela maneira como o tempo é trabalhado. Há o tempo do enunciado (a história em si, os fatos narrados) e o tempo da enunciação (o ato de narrar, de contar a história). O primeiro é pretérito. O segundo é presente. Mas há momentos magistrais, como os capítulos 19 e 36, em que, em meio à perturbação psicológica em que se encontra o narrador, os dois acabam-se misturando.
Todos esses elementos, portanto, fazem de São Bernardo uma obra do mais alto quilate, facilmente colocada entre os cinco melhores romances de nossa literatura.



Características dos Personagens
Luís Padilha - herdeiro que perde a fazenda para Paulo Honório, é um dos símbolos da antiga oligarquia rural nordestina (o outro é seu Ribeiro). A sua incompetência transforma-se em ressentimento e, em seguida, em idéias revolucionárias de esquerda. Sobrevive como professor na escola da fazenda e no final adere aos rebeldes de 1930.
Seu Ribeiro - guarda-livros de Paulo Honório, fora um poderoso senhor patriarcal no passado, mas não soubera acompanhar as mudanças históricas, afundando com o seu mundo. Ele representa os melhores valores de um patriarcalismo já morto, na medida em que sempre aplicou a justiça e ajudou a sua gente. Mesmo arruinado, continua cheio de princípios e de ética.
D. Glória - a tia de Madalena (e sua única familiar) mostra a face desprotegida das mulheres pobres livres que, não tendo se casado e não possuindo uma profissão, vivem do favor de parentes. Casimiro Lopes - figura clássica do capanga do antigo sistema rural pré-capitalista, revela, tanto em sua fidelidade ao patrão quanto na sua frieza assassina, a forma como os conflitos pela posse da terra eram resolvidos. Curiosamente, o jagunço é o único ser que parece gostar do filho de Paulo Honório e Madalena, assemelhando-se neste aspecto a personagens de Jorge Amado e a outros capangas que surgem em Angústia e Infância, do próprio Graciliano.
Padre Silvestre - encarna a Igreja em sua vinculação aos poderosos e sua aguda percepção de para onde sopram os ventos da História. A adesão do padre aos revolucionários de 30 é óbvia: afinal eles são os novos donos do poder. Óbvia também é a sua ruptura com Paulo Honório porque este não apóia a Revolução. João Nogueira - advogado do narrador, usa o saber jurídico, a esperteza amoral e a amizade com o juiz para favorecer seu cliente em pendengas sobre as terras.
Azevedo Gondim - jornalista venal, aluga a pena para defender os interesses de Paulo Honório, fechando os quatro pontos de apoio de seu poder: o jagunço, o padre, o advogado e o jornalista.
Fabiano
O dicionário Aurélio dá a definição de Fabiano como sendo indivíduo inofensivo; pobre diabo. Tal significação é reiterada a todo instante na obra. Fabiano fica dividido entre a revolta e a passividade, optando pela segunda atitude diante de sua impotência.
Tal impotência é reforçada pela não aquisição da linguagem, que é o seu maior anseio. Toma como exemplo seu Tomás da bolandeira, tentando de forma caótica imitar-lhe o vocabulário. Por não saber se expressar, entra num processo de isolamento, aproximando-se dos animais, com os quais se identifica melhor .
Sinha Vitória
Mais astuta do que o marido , é ela que percebe as trapaças do patrão (cap. 10) e também o início da estiagem (cap. 12) . Possui um espírito inconformado com sua situação , tendo como desejo de consumo uma cama de couro igual à do seu Tomás da bolandeira .
Seu inconformismo faz com que ela se transforme em uma pessoa queixosa, sendo impaciente com os filhos e um tanto quanto amargurada.
Os meninos
A ausência de nomes e de caracteres específicos acaba por projetá-los ao anonimato, formulando assim um caráter de denúncia. Parafraseando João Cabral de Melo - São tantos severinos / Iguais em tudo na vida.
Enquanto o mais novo vê no pai um ídolo, um modelo a ser seguido, a mais velho já é curioso, possui o desejo de saber.
Baleia
A conotação do nome Baleia ganha dois sentidos . Além de ser uma ironia requintada feita pelo autor , figura também como uma compensação pela carência d"água .
Ela é humanizada em vários momentos, tornando-se um membro da família, sempre se solidarizando com esta (o episódio do preá e do consolo que dá ao menino mais novo quando este cai do bode e fica triste). Sua solidariedade é desinteressada , pois além de ser bastante enxotada , fica sempre com os ossos , contentando-se com o pouco .
Seu Tomás da Bolandeira
Personagem que só aparece por meio de evocações (pois já havia morrido), é tido como referência para Fabiano e sinha Vitória. Enquanto Fabiano admira sua linguagem, tentando imitá-la de forma desconexa, sinha Vitória deseja uma cama de couro igual à sua. Dessa forma, ele representa as aspirações de mudança do casal.
O Soldado Amarelo
Os três personagens são representantes das instituições sociais que oprimem Fabiano. O soldado - corrupto oportunista e medroso; o dono da fazenda - exigente, ladrão e opressor; o fiscal da prefeitura intolerante e explorador.




Biografia do autor
Graciliano Ramos nasceu no dia 27 de outubro de 1892, na cidade de Quebrangulo, sertão de Alagoas, filho primogênito dos dezesseis que teriam seus pais, Sebastião Ramos de Oliveira e Maria Amélia Ferro Ramos. Viveu sua infância nas cidades de Viçosa, Palmeira dos Índios (AL) e Buíque (PE), sob o regime das secas e das suas que lhe eram aplicadas por seu pai, o que o fez alimentar, desde cedo, a idéia de que todas as relações humanas são regidas pela violência. Em seu livro autobiográfico "Infância", assim se referia a seus pais: "Um homem sério, de testa larga (...), dentes fortes, queixo rijo, fala tremenda; uma senhora enfezada, agressiva, ranzinza (...), olhos maus que em momentos de cólera se inflamavam com um brilho de loucura".
Em 1894, a família muda-se para Buíque (PE), onde o escritor tem contacto com as primeiras letras.
Em 1904, retornam ao Estado de Alagoas, indo morara em Viçosa. Lá, Graciliano cria um jornalzinho dedicado às crianças, o "Dilúculo". Posteriormente, redige o jornal "Echo Viçosense", que tinha entre seus redatores seu mentor intelectual, Mário Venâncio.
Em 1905 vai para Maceió, onde freqüenta, por pouco tempo, o Colégio Quinze de Março, dirigido pelo professor Agnelo Marques Barbosa.
Com o suicídio de Mário Venâncio, em fevereiro de 1906, o "Echo" deixa de circular. Graciliano publica na revista carioca "O Malho" sonetos sob o pseudônimo de Feliciano de Olivença.
Em 1909, passa a colaborar com o "Jornal de Alagoas", de Maceió, publicando o soneto "Céptico" sob o pseudônimo de Almeida Cunha. Até 1913, nesse jornal, usa outros pseudônimos: S. de Almeida Cunha, Soares de Almeida Cunha e Lambda, este usado em trabalhos de prosa. Até 1915 colabora com "O Malho", usando alguns dos pseudônimos citados e o de Soeiro Lobato.
Em 1910, responde a inquérito literário movido pelo Jornal de Alagoas, de Maceió. Em outubro, muda-se para Palmeira dos Índios, onde passa a residir.
Passa a colaborar com o "Correio de Maceió", em 1911, sob o pseudônimo de Soares Lobato.
Em 1914, embarca para o Rio de Janeiro (RJ) no vapor Itassuoê. Nesse ano e parte do ano seguinte, trabalha como revisor de provas tipográficas nos jornais cariocas "Correio da Manhã", "A Tarde" e "O Século". Colaborando com o "Jornal de Alagoas" e com o fluminense "Paraíba do Sul", sob as iniciais R.O. (Ramos de Oliveira). Volta a Palmeira dos Índios, em meados de 1915, onde trabalha como jornalista e comerciante. Casa-se com Maria Augusta Ramos.
Sua esposa falece em 1920, deixando quatro filhos menores.
Em 1927, é eleito prefeito da cidade de Palmeira dos Índios, cargo no qual é empossado em 1928. Ao escrever o seu primeiro relatório ao governador Álvaro Paes, “um resumo dos trabalhos realizados pela Prefeitura de Palmeira dos Índios em 1928”, publicado pela Imprensa Oficial de Alagoas em 1929, a verve do escritor se revela ao abordar assuntos rotineiros de uma administração municipal. No ano seguinte, 1930, volta o então prefeito Graciliano Ramos com um novo relatório ao governador que, ainda em nossos dias, não se pode ler sem um sorriso nos lábios, tal a forma sui generis em que é apresentado. Dois anos depois, renuncia ao cargo de prefeito e se muda para a cidade de Maceió, onde é nomeado diretor da Imprensa Oficial. Casa-se com Heloisa Medeiros. Colabora com jornais usando o pseudônimo de Lúcio Guedes.
Demite-se do cargo de diretor da Imprensa Oficial e volta a Palmeira dos Índios, onde funda urna escola no interior da sacristia da igreja Matriz e inicia os primeiros capítulos do romance São Bernardo.
O ano de 1933 marca o lançamento de seu primeiro livro, "Caetés", que já trazia consigo o pessimismo que marcou sua obra. Esse romance Graciliano vinha escrevendo desde 1925.
No ano seguinte, publica "São Bernardo". Falece seu pai, em Palmeira dos Índios.

Em março de 1936, acusado — sem que a acusação fosse formalizada — de ter conspirado no malsucedido levante comunista de novembro de 1935, é demitido, preso em Maceió e enviado a Recife, onde é embarcado com destino ao Rio de Janeiro no navio "Manaus". com outros 115 presos. O país estava sob a ditadura de Vargas e do poderoso coronel Filinto Müller. No período em que esteve preso no Rio, até janeiro de 1937, passou pelo Pavilhão dos Primários da Casa de Detenção, pela Colônia Correcional de Dois Rios (na Ilha Grande), voltou à Casa de Detenção e, por fim, pela Sala da Capela de Correção. Seu livro "Angústia" é lançado no mês de agosto daquele ano. Esse romance é agraciado, nesse mesmo ano, com o prêmio "Lima Barreto", concedido pela "Revista Acadêmica".
Foi libertado e passou a trabalhar como copidesque em jornais do Rio de Janeiro, em 1937. Em maio, a "Revista Acadêmica" dedica-lhe uma edição especial, de número 27 - ano III, com treze artigos sobre o autor. Recebe o prêmio "Literatura Infantil", do Ministério da Educação", com "A terra dos meninos pelados."
Em 1938, publica seu famoso romance "Vidas secas". No ano seguinte é nomeado Inspetor Federal do Ensino Secundário no Rio de Janeiro.
Em 1940, freqüenta assiduamente a sede da revista "Diretrizes", junto de Álvaro Moreira, Joel Silveira, José Lins do Rego e outros "conhecidos comunistas e elementos de esquerda", como consta de sua ficha na polícia política. Traduz "Memórias de um negro", do americano Booker T. Washington, publicado pela Editora Nacional, S. Paulo.
Publica uma série de crônicas sob o título "Quadros e Costumes do Nordeste" na revista "Política", do Rio de Janeiro.
Em 1942, recebe o prêmio "Felipe de Oliveira" pelo conjunto de sua obra, por ocasião do jantar comemorativo a seus 50 anos. O romance "Brandão entre o mar e o amor", escrito em parceria com Jorge Amado, José Lins do Rego, Aníbal Machado e Rachel de Queiroz é publicado pela Livraria Martins, S. Paulo.
Em 1943, falece sua mãe em Palmeira dos Índios.
Lança, em 1944, o livro de literatura infantil "Histórias de Alexandre". Seu livro "Angústia" é publicado no Uruguai.
Filia-se ao Partido Comunista, em 1945, ano em que são lançados "Dois dedos" e o livro de memórias "Infância".
O escritor Antônio Cândido publica, nessa época, uma série de cinco artigos sobre a obra de Graciliano no jornal "Diário de São Paulo", que o autor responde por carta. Esse material transformou-se no livro "Ficção e Confissão".
Em 1946, publica "Histórias incompletas", que reúne os contos de "Dois dedos", o conto inédito "Luciana", três capítulos de "Vidas secas" e quatro capítulos de "Infância".
Os contos de "Insônia" são publicados em 1947.
O livro "Infância" é publicado no Uruguai, em 1948.
Traduz, em 1950, o famoso romance "A Peste", de Albert Camus, cujo lançamento se dá nesse mesmo ano pela José Olympio.
Em 1951, elege-se presidente da Associação Brasileira de Escritores, tendo sido reeleito em 1962. O livro "Sete histórias verdadeiras", extraídas do livro "Histórias de Alexandre", é publicado.
Em abril de 1952, viaja em companhia de sua segunda esposa, Heloísa Medeiros Ramos, à Tcheco-Eslováquia e Rússia, onde teve alguns de seus romances traduzidos. Visita, também, a França e Portugal. Ao retornar, em 16 de junho, já enfermo, decide ir a Buenos Aires, Argentina, onde se submete a tratamento de pulmão, em setembro daquele ano. É operado, mas os médicos não lhe dão muito tempo de vida. A passagem de seus sessenta anos é lembrada em sessão solene no salão nobre da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, em sessão presidida por Peregrino Júnior, da Academia Brasileira de Letras. Sobre sua obra e sua personalidade falaram Jorge Amado, Peregrino Júnior, Miécio Tati, Heraldo Bruno, José Lins do Rego e outros. Em seu nome, falou sua filha Clara Ramos.
No janeiro ano seguinte, 1953, é internado na Casa de Saúde e Maternidade S. Vitor, onde vem a falecer, vitimado pelo câncer, no dia 20 de março, às 5:35 horas de uma sexta-feira. É publicado o livro "Memórias do cárcere", que Graciliano não chegou a concluir, tendo ficado sem o capítulo final.

Postumamente, são publicados os seguintes livros: "Viagem", 1954, "Linhas tortas", "Viventes das Alagoas" e "Alexandre e outros heróis", em 1962, e "Cartas", 1980, uma reunião de sua correspondência.
Seus livros "São Bernardo" e "Insônia" são publicados em Portugal, em 1957 e 1962, respectivamente. O livro "Vidas secas" recebe o prêmio "Fundação William Faulkner", na Virginia, USA.
Em 1963, o 10º aniversário da morte de Mestre Graça, como era chamado pelos amigos, é lembrado com as exposições "Retrospectiva das Obras de Graciliano Ramos", em Curitiba (PR), e "Exposição Graciliano Ramos", realizada pela Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
Em 1965, seu romance "Caetés" é publicado em Portugal.
Seus livros "Vidas secas" e "Memórias do cárcere" são adaptados para o cinema por Nelson Pereira dos Santos, em 1963 e 1983, respectivamente. O filme "Vidas secas" obtem os prêmios "Catholique International du Cinema" e "Ciudad de Valladolid" (Espanha). Leon Hirszman dirige "São Bernardo", em 1980.
Em 1970, "Memórias do cárcere" é publicado em Portugal.
Bibliografia:
- Caetés - romance
- São Bernardo - romance
- Angústia - romance
- Vidas secas - romance
- Infância - memórias
- Dois dedos - contos
- Insônia - contos
- Memórias do cárcere - memórias
- Viagem - impressões sobre a Tcheco-Eslováquia e a URSS.
- Linhas tortas - crônicas
- Viventes das Alagoas - crônicas
- Alexandre e outros irmãos (Histórias de Alexandre, A terra dos meninos pelados e Pequena história da República).
- Cartas - correspondência pessoal.